26.10.06

LUZ AO FUNDO DO TUNEL(?)


O dia decorre naturalmente. Chegam-me relatos de confusão junto ao aeroporto. O campo de refugiados dos aeroporto encontra-se a ser atacado e aquela zona mais parece um campo de batalha. Isto não é nada a que não esteja já habituado. Desde que regressei que nunca me senti ameaçado, e sob qualquer tipo de perigo, embora saiba que estes casos se sucedem diariamente. No edificio todas as pessoas que me conhecem e que se cruzam comigo me dizem, em jeito de gozo, "então pá, aquilo prós teus lados está complicado". Uma pessoa acena... e diz que assim parece, e nada mais se comenta. Apenas penso que mais uma vez terei de ir pela ribeira, para conseguir almoçar em casa.
Recebo um telefonema avisando-me que a estrada a seguir à ponte de Comoro está cortada, e assim se confirma mais um "passeio" pela ribeira.
É dia de compras para a Dona F. que trabalha em nossa casa, às quais vai acompanhada pelo Sr. C.. Recebo um telefonema do Sr. C. avisando-me que não consegue passar para casa, pois há barreiras e chekpoints feitos por civis. Volte para o escritório, digo-lhe eu...
O Sr. C. avisa-me também que tivemos problemas em casa, o que logo me atira e aos meus colegas para dentro da pick up, a caminho de casa.
Pelo caminho o cruzar com carros de policia é constante. Nunca tinha visto tanta policia em TL. Os helicopetros militares pairam sobre a minha cabeça, impossibilitando qualquer conversa tida com o normal esforço. Ouvem-se o que parecem ser tiros ao longe. O caminho para casa foi feito pela ribeira, e foi feito sem qualquer problema. A rua da minha casa, mais parece agora uma rua principal da cidade, pois toda a gente faz aquele caminho fugindo à confusão do aeroporto.
Em casa tudo calmo, exceptuando o olhar do L., que parece agitado. Pergunto o que se passou, visto que o Sr. C. me tinha tido que teria havido confusão. A resposta foi breve e objectiva. "Fui ameaçado, Sr. Pedro. Uns gajos chegaram aqui ao pé da vedação e ameaçaram-me."
Pergunto qual a razão para tal ameaça... e mais um vez a resposta é curta e directa.
"Ameaçaram-me porque sou Lorosa'e."