16.7.06

LUGAR... AQUI...


Quando se chega, com a nossa “casa” dobrada e comprimida em malas que teimam a pesar mais do que devem, a um país novo, tudo são perguntas para mim. Quem me conhece um pouco sabe que vivo eternamente na “idade dos porquês”, tudo é questionado, pensado, justificado e projectado, por uma cabeça masoquista e demasiado chata para muitos (incluindo para mim, às vezes).

Chegar a Cabo Verde não foi pacífico para a minha cabeça! Não é um caso especial este... foi o mesmo drama em outros lugares do mundo... e nem é preciso sair de Portugal... basta ser novo para mim.
Já me tinham dito uma vez, quando parti para o Japão que “não vale de nada questionar, simplesmente aceita! São pessoas, realidades diferentes, nem melhores nem piores, simplesmente diferentes...” Custa um pouco a acreditar, mas é mesmo assim! Mas, como eu sei como a minha cabeça funciona, também sei que demora algum tempo a aceitar o inevitável e passar a ver as coisas sem o filtro do preconceito mental de quem acaba de chegar da “terrinha”. Sei que demora mais ou menos um mês... um mês de puro masoquismo!
Quando se visita Cabo Verde, com um olhar de ver, que vá para além do peixe bom e barato e das praias desertas, é quase impossível deixar de pensar “porque é que esta gente insiste em viver aqui?” É, na verdade uma pergunta muito estúpida! Bastava responder “porque é a sua terra!”, mas não! A mente continua a pensar... a pensar em que malvado castigo é este, o de viver rodeado de mar, sem um fio de água para beber... Isto tudo sem falar nas pessoas que vivem a quilómetros de qualquer resquício de cidade ou coisa que se pareça, no meio de um deserto que nem isso é no concreto, numa terra cinzenta de pedra e pó, onde o olhar de uma criança sentada numa pedra se perde num infinito, sem brilho nem sonho! Onde a única certeza para muitos é a da sua pobreza... e quando parece que vai chover, lá estão eles de novo a remexer a terra, lançar semente, nos lugares mais improváveis... para ver depois as nuvens partir para ir chover no mar! Como é possível amar este lugar, feito de sofrimento, de luta... um degredo feito lugar, um lugar vivido por quem realmente lhe sabe dar valor!
Não sei o que leva a esta paixão... mas depois lembro-me da solidão nostálgica do Alentejo (que não sendo meu, sinto como tal), no olhar de um velho que ali morre todos os dias mais um pouco... onde viveu e lutou por viver... para quem o único luxo na vida foi mesmo o de ter todos os dias a violência da sua terra, a sua paisagem, cravadas no fundo dos olhos!
... e tudo me parece fazer mais sentido!
Como será viver sem amar o seu lugar?
João, Ilha de Santiago, Cabo Verde...

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

a ex madrinha (nunca gostei muito deste apelido) agora só Rita, manda um beijo e um abraço do tamanho do mundo. Pondera e equaciona uma visita a terras quentes...

12:11 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Já começo a gostar!
Quando te começa a chegar a veia poética, a coisa começa a compor-se.
Beijos

12:22 da tarde  

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