DEPOIS DO CALOR...
Estava uma noite com as outras, sem luz, cansado, a derreter com o calor e uma humidade estúpida, a ser comido vivo pelos mosquitos... Foi uma sensação boa, perceber que estava finalmente a adormecer, as melgas só iriam chatear de manhã... Mas foi de pouca dura... Por volta das 3:30 da manhã, acordei com o barulho incrível da chuva! Sim... leram bem. CHUVA!
“Cordas” que escorriam como se não houvesse amanhã, numa tempestade de chuva (sim, porque de areia já tinha experimentado) como nunca tinha visto! Sem um sopro de vento... daquelas trombas-d’água que vale a pena chamar o pessoal para vir ver “venham depressa, olhem como chove!” Mas aqui, aqui podiam vir bem devagar... choveu como se o mundo fosse acabar durante 6 horas! Sem parar!
No princípio foi uma euforia estranha, quase como no primeiro terramoto em Chiba (santa ignorância!) mas passados uns minutos lembrei-me... o pátio! Sim, tenho um pátio junto à cozinha, no piso de baixo, completamente fechado por muros de 9 metros de altura, grade de ferro por cima e tudo (à semelhança de todas as janelas cá em casa). Até aqui tudo bem, não fosse aquele buraquinho no meio do chão... que não escoa uma pinga de água! “Em Cabo Verde não chove... só muito de vez em quando... para quê desentupir essa porcaria...” Enfim, quando chove, chove mesmo... foi uma luta, feita de toalhas, baldes, vassouras, esfregona, a fazer barragens na porta do pátio, gerir bem o volume de água na cozinha, de forma a evitar que entrasse no atelier. De qualquer forma, já estavam os móveis transferidos para a sala de reuniões (um degrau mais alta).
Mas... o que são aqueles coisas na parede da sala de reuniões? (Não esquecer que são 4:30 da manhã e não há luz!) parecem... são bolhas de água! Tá tudo infiltrado! É verdade! As obras que andaram a fazer na rua das traseiras, com o objectivo específico de isolar a minha parede... foram, por assim dizer... uma medra! Talvez o pessoal aqui ainda não tenha percebido que o cimento não é solução milagrosa para tudo... também infiltra! Resultado, a parede já não tinha grande solução, mas o tecto... estava a ser infiltrado por água que estava a entrar no piso da casa-de-banho em cima! Lá passei eu a noite a apanhar água do chão (lá em cima, ao nível da rua de trás) para não infiltrar na laje e destruir os móveis que estavam por baixo...! Pelo caminho limpava poças junto às janelas da escada, controlava o nível na cozinha, apreciava o espectáculo na rua... e tentava dormir uns minutos de cada vez... (é cansativo ler? agora imaginem a minha noite!)
Como em Cabo Verde não existe uma única sarjeta, tudo corre pela rua! Como para muita gente o contentor do lixo é uma modernice para gente rica, todo lixo corre pela rua! Como muitas pessoas da favela “Brasil”, mesmo aqui por cima da minha casa, não têm qualquer tipo de casa-de-banho... tudo corre pela rua! Enfim, era um cheiro estranho a tudo, chuva tropical, terra (o mar que era um lago gigante) cheiro a lixo e esgoto... lama e água... que foi tudo para mesmo à frente da minha casa, bem no meio do cruzamento mais complicado da Cidade da Praia. Surreal!
Foi um espectáculo de tragica-comédia assistir aos atascanços consecutivos de todos os tipos de carros, no seu normal percurso para o trabalho... Sim... e os tipos que às 5:00 saíam com o seu calção e ténis de corrida para fazer o seu jogging matinal...? Nas calmas, com se nada fosse!
Foi assim até às 9:30 da manhã!
PS - Acreditam que, depois de um dia destes, depois passado a arrumar e limpar tudo, ainda vou dar com uma rapariga, talvez com 7/8 anos, que deve ter achado o meu pequeno jardim da frente muito mais limpinho que a sua casa-de-banho, a deixar-me "uma cereja em cima do bolo"! Sem palavras!
3 Comments:
Kunami!
Não é cerejinha, é... fica assim castanhinho, molinho, assim... kunami... KUNAMI FRESQUINHO!!
Que atenciosa que ela foi João! Vá... não sejas tão frio! Ela só quis ser simpatica!
jeeesuusss... ahhh, pelo menos a vida não de certeza aborrecida
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