A boiar dentro de mim...
Costumo dizer que, um homem é o que é em cada lugar onde esteja. Existe uma personalidade própria e minimamente constante, não há dívida, mas é certo que o lugar e todos os seus factores, são forças incontornáveis no molde da pessoa que assumo ser!
Quando estou longe, tenho tendência para falar menos, mais devagar, ver e ouvir. No entanto, com o tempo de permanência e aprendizagem, começo a filtrar a informação e ganho uma nova forma de estar. Mais tranquilo e mais solitário! Parece que passo a viver numa dimensão paralela, só minha, onde entro e saio a meu belo prazer. Um universo feito de pensamentos, livros e imagens que vou gravando no fundo dos olhos, cheiros que sinto sempre (mesmo quando já não me repugnam), vozes, ritmos e rotinas. E não haveria nenhum problema... não fosse eu uma pessoa que precisa da partilha para dar sentido ao que aprende!
Há coisas que não se explicam, por maior que seja a nossa eloquência. São coisas que têm de ser vividas, no local, no momento e com a amplitude de espírito necessária. Não basta ver e ouvir! É preciso deixar entrar pelos poros, sem preconceito, sem questionar os porquês culturais, sem nos deixarmos levar pela tendência constante que é a de atribuirmos uma verdade maior ao que somos por natureza. São essas experiências, quase insignificantes no dia-a-dia e que, somando todas (porque são muitas!) formam o conjunto de factores que fazem a erosão do que somos. Ganhamos formas que não sabemos explicar... que não saberão compreender!
Mas se não o posso partilhar, para além da pessoa que sou e que virei a ser, para que serve tudo isto? Sinto-me sempre a transbordar de coisas que não posso ou não sei partilhar... porque de nada me serve a partilha se não for plena! Pesa... e carrega mais um pouco a cada dia, um mundo que me vai entrando pelos olhos sem pedir licença e sem culpa da vontade, também ela inexplicável, que me leva a querer olhar e ver...
Quando volto a casa, ao meu mundo, não volto o mesmo que partiu... mas também não espero voltar o mesmo que ali não esteve. São momentos que não fazem sentido em dois lugares diferentes e, para além das pessoas que vou ganhando e perdendo para sempre, é desses estados de alma que sinto as maiores saudades!
3 Comments:
Como te perecebo!... e como sei o quão impossível é, partilhar à distância!...
Dizia eu há dias que o que deveria ser mais difícil, para ti, e no meio de todas as dificuldades, era não poderes elaborar com outros, quem te ouça e perceba, quem partilhe tb.
Entendo-te, embora saiba, tb, ser pouco.
Um beijo, MF
A essência do ser ou "de" ser humano talvez seja mesmo essa: a partilha de momentos vividos e experienciados por nós. Pois partilhar é construir.
Aliás, a não partilha irá influênciar a vivência em pleno desses mesmos momentos. Ficamos sempre com aquela sensação de que faltou algo para se perfeito.
Sozinhos parecemos inúteis. No entanto esses são os melhores momentos para te conheceres. Serás uma pessoa diferente, não tenhas dúvidas. E esse "novo" João partilhará os próximos momentos com uma sensibilidade que o anterior não tinha.
Um abraço! ( e obrigado pela tua partilha )
Quando voltares a casa vais ser uma pessoa diferente, porque te apercebeste da realidade onde te encontras com os teus cinco sentidos.
Quando chegares a casa vais conseguir transmitir toda a experiência que adquiriste e isso é partilhar. Tudo é efémero na vida... Hoje estás sozinho, amanhã rodeado dos teus amigos e família.
Há muitas formas de partilhar. O simples facto de transpores para o blog o que te vai na cabeça é uma delas.
Abracinho fote!!!
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