Santiago de outra cor!
Como é possível um bocado de rocha e terra mudar tanto em tão pouco tempo? O que era completamente cinzento, castanho, árido, é agora verde e quase luxuriante! Ainda não entramos no mês das “chuvas grandes” e já está tudo coberto de verde! Onde quer que haja um palmo de terra (literalmente um palmo) há um manto de vegetação nova, verde brilhante... ofuscante!
A estrada segue por terriolas, aglomerados, dois ou três vizinhos, aldeias e lugares (algumas sedes de conselho!) passamos pelos nomes mais incríveis, S. Lourenço dos Órgãos, Picos, Assomada, Serra da Malagueta, Chão Bom, Tarrafal... sempre verde, tudo verde, plantações de milho e feijão por todo o lado, milho em encostas a 80º (literalmente!), na berma da estrada, nos canteiros das pequenas praças...
Era hora de comer e fizemos um desvio para ir a um lugar. “Mas onde?” perguntava eu, “A um lugar...” respondia ele. À Longueira, pois claro! Um lugar daqueles que não se percebe porque é que existe... mas depois olhamos e vemos. Um jardim botânico, um centro de investigação de botânica, uma casa ali outra acolá, uma escola perdida no meio do mato e, no fundo do vale, um alambique! Coisa verdadeiramente surreal! No leito de uma ribeira, um complexo de produção e armazenagem artesanal de grogue... só vendo! Um enquadramento de tirar o fôlego, a água sempre a correr, um cheiro intenso, enjoativo da fermentação, uma árvore de mogno centenária, pessoas a trabalhar, a conversar, a passar o tempo... Sentámo-nos e comemos, quase em silêncio só a ver... para sentirmos depois o calor do grogue bebido numa cabaça... a dar sentido a tudo aquilo!
Seguimos para Sta. Catarina, Vila da Assomada, burgo interior em grande crescimento, feira, praça central, amigos e conhecidos por todo o lado (que praga!) e não perdemos muito tempo. A Serra da Malagueta vale bem a pena ver, e parar, ver e seguir. São paisagens de cortar a respiração, vales impressionantes de profundidade, tamanho cor e neblina... “Mas como é que moram pessoas aqui, neste fim de mundo? Vivem de Paisagem?” Há perguntas que já não me atrevo a fazer!
Tarrafal! Passar junto à Colónia Penal e não entrar... um misto de vontade e medo! Vontade de ver o que imaginava... medo de que fosse mesmo verdade!
A Vila do Tarrafal é o verdadeiro paraíso turístico de Santiago (pena ficar a 1h30 do aeroporto) praias de areia branca, restaurantes e esplanadas para o mar e pôr-do-sol, pessoas afáveis e aparentemente felizes na sua pobreza altiva. Vale a pena voltar... e foi o que fizemos!
No dia seguinte repetimos a dose, agora também com a Cornélia, numa viagem mais despachada com destino a almoço, praia e jantar.
Parámos a meio, a meu pedido, para constatar que era mesmo verdade... ainda o é! A Colónia Penal do Tarrafal, nome de má memória, sofrimento, opressão e morte... existiu mesmo, existe ainda, degradante e tremendamente triste! Respira-se o medo, a intolerância, o sofrimento, o lado mais negro da memória de um Portugal, que quer esquecer aquilo de que foi capaz um dia...
A vista da vila foi com um respirar fundo depois de um mergulho nas trevas. Estávamos de novo no lado bom da vida. E nada como almoçar entre amigos, novos e velhos, na descontracção de quem oferece sem pedir em troca...
Mas como com o Álvaro nunca se sabe, saímos do restaurante, já fartos da conversa dos amigos emigrantes, e fomos (os dois) a uma praia fora da vila. Palmeiras, coqueiros, mangueiras, milho (claro!) dunas de areia preta, uma baía enorme e um mar absolutamente cristalino! Uma praia quase deserta que dá vontade de ficar e não sair...! O calor, o mar e a chuva que caía faziam com que o tempo não parecesse passar... ali sim, vale a pena! Tempo ainda para uma cerveja numa aldeia de pescadores, com uma vista fabulosa sobre a praia.
Voltámos à vila para poder gozar o pôr-do-sol ao ritmo de um gin-tónico...
1 Comments:
Ficaste a saber de onde vem, afinal, o "Verde" de "Cabo Verde"
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