31.8.06

Santiago de outra cor!

Saí de casa sem vontade! Só queria mesmo descansar de uma semana complicada, queria sol e piscina... mas não! O desafio estava feito e não podia recusar, sob pena de ser estúpido e indelicado, e foi ainda de manhã, que saímos, eu e o Álvaro rumo ao interior. Não havia um plano propriamente dito, para além de seguir a estrada que atravessa a ilha a meio... e foi um deslumbre!

Como é possível um bocado de rocha e terra mudar tanto em tão pouco tempo? O que era completamente cinzento, castanho, árido, é agora verde e quase luxuriante! Ainda não entramos no mês das “chuvas grandes” e já está tudo coberto de verde! Onde quer que haja um palmo de terra (literalmente um palmo) há um manto de vegetação nova, verde brilhante... ofuscante!


A estrada segue por terriolas, aglomerados, dois ou três vizinhos, aldeias e lugares (algumas sedes de conselho!) passamos pelos nomes mais incríveis, S. Lourenço dos Órgãos, Picos, Assomada, Serra da Malagueta, Chão Bom, Tarrafal... sempre verde, tudo verde, plantações de milho e feijão por todo o lado, milho em encostas a 80º (literalmente!), na berma da estrada, nos canteiros das pequenas praças...

Era hora de comer e fizemos um desvio para ir a um lugar. “Mas onde?” perguntava eu, “A um lugar...” respondia ele. À Longueira, pois claro! Um lugar daqueles que não se percebe porque é que existe... mas depois olhamos e vemos. Um jardim botânico, um centro de investigação de botânica, uma casa ali outra acolá, uma escola perdida no meio do mato e, no fundo do vale, um alambique! Coisa verdadeiramente surreal! No leito de uma ribeira, um complexo de produção e armazenagem artesanal de grogue... só vendo! Um enquadramento de tirar o fôlego, a água sempre a correr, um cheiro intenso, enjoativo da fermentação, uma árvore de mogno centenária, pessoas a trabalhar, a conversar, a passar o tempo... Sentámo-nos e comemos, quase em silêncio só a ver... para sentirmos depois o calor do grogue bebido numa cabaça... a dar sentido a tudo aquilo!



Seguimos para Sta. Catarina, Vila da Assomada, burgo interior em grande crescimento, feira, praça central, amigos e conhecidos por todo o lado (que praga!) e não perdemos muito tempo. A Serra da Malagueta vale bem a pena ver, e parar, ver e seguir. São paisagens de cortar a respiração, vales impressionantes de profundidade, tamanho cor e neblina... “Mas como é que moram pessoas aqui, neste fim de mundo? Vivem de Paisagem?” Há perguntas que já não me atrevo a fazer!

Tarrafal! Passar junto à Colónia Penal e não entrar... um misto de vontade e medo! Vontade de ver o que imaginava... medo de que fosse mesmo verdade!

A Vila do Tarrafal é o verdadeiro paraíso turístico de Santiago (pena ficar a 1h30 do aeroporto) praias de areia branca, restaurantes e esplanadas para o mar e pôr-do-sol, pessoas afáveis e aparentemente felizes na sua pobreza altiva. Vale a pena voltar... e foi o que fizemos!

No dia seguinte repetimos a dose, agora também com a Cornélia, numa viagem mais despachada com destino a almoço, praia e jantar.

Parámos a meio, a meu pedido, para constatar que era mesmo verdade... ainda o é! A Colónia Penal do Tarrafal, nome de má memória, sofrimento, opressão e morte... existiu mesmo, existe ainda, degradante e tremendamente triste! Respira-se o medo, a intolerância, o sofrimento, o lado mais negro da memória de um Portugal, que quer esquecer aquilo de que foi capaz um dia...

A vista da vila foi com um respirar fundo depois de um mergulho nas trevas. Estávamos de novo no lado bom da vida. E nada como almoçar entre amigos, novos e velhos, na descontracção de quem oferece sem pedir em troca...

Mas como com o Álvaro nunca se sabe, saímos do restaurante, já fartos da conversa dos amigos emigrantes, e fomos (os dois) a uma praia fora da vila. Palmeiras, coqueiros, mangueiras, milho (claro!) dunas de areia preta, uma baía enorme e um mar absolutamente cristalino! Uma praia quase deserta que dá vontade de ficar e não sair...! O calor, o mar e a chuva que caía faziam com que o tempo não parecesse passar... ali sim, vale a pena! Tempo ainda para uma cerveja numa aldeia de pescadores, com uma vista fabulosa sobre a praia.


Voltámos à vila para poder gozar o pôr-do-sol ao ritmo de um gin-tónico...

27.8.06

(Des)Ordem

Por cada vez que começo a acreditar que, afinal, Portugal até não está assim tão mal, que em certas áreas estamos ao nível de países desenvolvidos como a Suiça e que, noutras (poucas), estamos mesmo melhor, acontece alguma coisa me belisca e acorda para a triste realidade.
Segundo o que acabei de ver no site da Ordem dos Arquitectos-SRS a segunda Época de Admissão à Ordem foi, depois de um primeiro adiamento, novamente adiada, transitando a época de inscrição de 18 a 29 de Setembro para 9 a 20 de Outubro.
Em função da data de inscrição de Setembro, organizei todo o meu trabalho e todos os meus assuntos pessoais, quer em Genève, quer em Portugal, incluindo a reserva da viagem.
Ora, se isto não é uma verdadeira fantochada, não sei o que lhe chamar, andam a brincar às profissões e com a diversão lixam a vida a quem tem mais que fazer. È de uma tremenda irresponsabilidade e de uma inadmissível falta de consciência de que quando se toma uma decisão destas se está a mexer com a vida de largas centenas ou mesmo milhares de pessoas, é ridículo, e terceiro mundista.
É muito triste porque são estas coisas, entre muitas outras parecidas ou mais graves, que me vão afastando do país que tenho como minha casa e me vai fazendo considerar cada vez mais se vale a pena voltar para um sítio onde tal é possível, até mesmo porque, como e onde estou, não preciso de tretas de Ordem para nada!!

25.8.06

A Pouco e Pouco (Favas com Chouriço)

Calma! Eu prometo que depois tiro o post...


É das coisas mais hilariantes da música portuguesa! A única coisa que me intriga (seriamente) é que consta que o Zé Cid (O Mestre!) estava a falar a sério quando escreveu e gravou esta pérola!
Invistam uns minutos para ouvir e ver com atenção... Vale a pena! É de ir às lágrimas!

19.8.06

CONTRASTES...

África no seu esplendor urbano!

Num dia para esquecer (para mim, pelo menos), feito de trabalho madrugador, stress e uma gigantesca falta de motivação... a perspectiva de mais uma noite sem nada para fazer, em claro e a derreter lentamente... era claramente dramática.

Foi “sem coluna vertebral” que tomei um banho e saí, sozinho, com umas revistas debaixo do braço, em direcção ao Hotel Trópico, detentor do único café decente na cidade. Até aqui, nada de novo, um snack, uma cerveja... e a habitual solidão confrangedora num local marcado por encontros e conhecimentos de toda a espécie! Meia-noite, hora de pagar e ir dormir (o dia tinha sido grande e complicado) quando, o administrador da restauração e bar do hotel, não resiste à pergunta óbvia ao gajo que ali pára diariamente e sempre sozinho: o que é que andas cá a fazer? Não terá sido bem assim, alguma aproximação é recomendável, mas o certo é que em poucos minutos já conhecia o director do hotel, o primeiro dono do mesmo, e mais uns tipos, bêbados de álcool e dinheiro, prontos para ir beber um copo ao Tabanka!

Conversa da treta e de circunstância, e estávamos de saída para o Flama (a única discoteca decente cá no calhau) onde, já só com um resistente, entrei pela primeira vez. Uma cerveja, ver as miúdas, chocalhar um pouco... quando uma mulata arranha um “o senhô num gosta di dançá?” E eu, desenvolto como sempre nestas coisas, faço o sorriso amarelo e levanto o copo de cerveja, prontamente resgatado pelo meu companheiro de noite com um “Vai! Faz parte da integração!” Não tinha outra saída... e fui! E, de repente, deparei-me com aqueles minutos de pura liberdade mental, livre de preocupações maiores e a gozar verdadeiramente a música, a dança, e o extraordinário sexappel das noites de Cabo Verde!

Pouco depois estava em casa, cansado mas leve... depois de acordar nessa manhã, mal dormido e cheio de dores no corpo, e um dia completo de trabalho de campo! É isto meus amigos... nunca sabemos o que vai acontecer! É uma verdadeira montanha-russa, feita de bons e maus momentos, intensos como só neste continente condenado ao melhor e pior da vida!
PS- Decididamente, tenho de resolver este problema de me esquecer dos nomes das pessoas imediatamente após serem ditos!

16.8.06

De Génio...

Dedicatória especial para o João e para o Pedro

14.8.06

O VOLTAR E O PENSAR EM REGRESSAR(?)

O periodo de ressaca começa a passar. É aquele periodo em que uma pessoa tende a fazer comparações com o que antes viveu, com o que agora presencia. É o periodo em que o sentimento de não pertença, de estranheza para com o sitio, se verifica constantemente. O reviver de locais, o sentir dos cheiros, das expressões, das vivências, contrapondo-se às mesmas vividas noutro local, durante um longo periodo de tempo. Reconhece-se coisas, locais, o que proporciona um sentimento de conforto. A familia está presente diariamente. Os amigos ficaram à nossa espera, e falamos como se todo este tempo em que estivemos afastados, correspondesse a apenas um par de horas. A conversa rapidamente sai, mesmo sem acompanhar alguns episodios pelo meio, o que torna mais complicada uma contextualização... Os episodios vividos em conjunto rapidamente se recordam, passando para o futuro que se avizinha sem uma definição...
E é este futuro que poderá ser vivido em Timor??....

9.8.06

ARIGATO GOZAIMASU


Foi muito bom ler o teu mail, ainda mais uma manhã de tempestade, desta vez mais curta e perfeitamente controlada nas dependências de que sou responsável (vou colocar no meu curriculum “Especialista em controlo de cheias e reparação de geradores a 2-tempos”).

Foi bom saber que estás bem... e sentir o teu apoio nestes “mergulhos de cabeça” que insisto em fazer de “olhos fechados”... para os abrir só no lado de lá!

É muito fácil ser-se um alien em qualquer parte do mundo quando os amigos estão lá! Obrigado Sara!

João.

8.8.06

...

O Lèman visto de Yvoire (França)
Interlaken, perto de Berna

CABO VERDE REPORT (01)


Registam-se evidentes melhorias no fornecimento de energia eléctrica na Cidade da Praia!

4.8.06

DEPOIS DO CALOR...


Estava uma noite com as outras, sem luz, cansado, a derreter com o calor e uma humidade estúpida, a ser comido vivo pelos mosquitos... Foi uma sensação boa, perceber que estava finalmente a adormecer, as melgas só iriam chatear de manhã... Mas foi de pouca dura... Por volta das 3:30 da manhã, acordei com o barulho incrível da chuva! Sim... leram bem. CHUVA!

“Cordas” que escorriam como se não houvesse amanhã, numa tempestade de chuva (sim, porque de areia já tinha experimentado) como nunca tinha visto! Sem um sopro de vento... daquelas trombas-d’água que vale a pena chamar o pessoal para vir ver “venham depressa, olhem como chove!” Mas aqui, aqui podiam vir bem devagar... choveu como se o mundo fosse acabar durante 6 horas! Sem parar!

No princípio foi uma euforia estranha, quase como no primeiro terramoto em Chiba (santa ignorância!) mas passados uns minutos lembrei-me... o pátio! Sim, tenho um pátio junto à cozinha, no piso de baixo, completamente fechado por muros de 9 metros de altura, grade de ferro por cima e tudo (à semelhança de todas as janelas cá em casa). Até aqui tudo bem, não fosse aquele buraquinho no meio do chão... que não escoa uma pinga de água! “Em Cabo Verde não chove... só muito de vez em quando... para quê desentupir essa porcaria...” Enfim, quando chove, chove mesmo... foi uma luta, feita de toalhas, baldes, vassouras, esfregona, a fazer barragens na porta do pátio, gerir bem o volume de água na cozinha, de forma a evitar que entrasse no atelier. De qualquer forma, já estavam os móveis transferidos para a sala de reuniões (um degrau mais alta).

Mas... o que são aqueles coisas na parede da sala de reuniões? (Não esquecer que são 4:30 da manhã e não há luz!) parecem... são bolhas de água! Tá tudo infiltrado! É verdade! As obras que andaram a fazer na rua das traseiras, com o objectivo específico de isolar a minha parede... foram, por assim dizer... uma medra! Talvez o pessoal aqui ainda não tenha percebido que o cimento não é solução milagrosa para tudo... também infiltra! Resultado, a parede já não tinha grande solução, mas o tecto... estava a ser infiltrado por água que estava a entrar no piso da casa-de-banho em cima! Lá passei eu a noite a apanhar água do chão (lá em cima, ao nível da rua de trás) para não infiltrar na laje e destruir os móveis que estavam por baixo...! Pelo caminho limpava poças junto às janelas da escada, controlava o nível na cozinha, apreciava o espectáculo na rua... e tentava dormir uns minutos de cada vez... (é cansativo ler? agora imaginem a minha noite!)

Como em Cabo Verde não existe uma única sarjeta, tudo corre pela rua! Como para muita gente o contentor do lixo é uma modernice para gente rica, todo lixo corre pela rua! Como muitas pessoas da favela “Brasil”, mesmo aqui por cima da minha casa, não têm qualquer tipo de casa-de-banho... tudo corre pela rua! Enfim, era um cheiro estranho a tudo, chuva tropical, terra (o mar que era um lago gigante) cheiro a lixo e esgoto... lama e água... que foi tudo para mesmo à frente da minha casa, bem no meio do cruzamento mais complicado da Cidade da Praia. Surreal!

Foi um espectáculo de tragica-comédia assistir aos atascanços consecutivos de todos os tipos de carros, no seu normal percurso para o trabalho... Sim... e os tipos que às 5:00 saíam com o seu calção e ténis de corrida para fazer o seu jogging matinal...? Nas calmas, com se nada fosse!

Foi assim até às 9:30 da manhã!

PS - Acreditam que, depois de um dia destes, depois passado a arrumar e limpar tudo, ainda vou dar com uma rapariga, talvez com 7/8 anos, que deve ter achado o meu pequeno jardim da frente muito mais limpinho que a sua casa-de-banho, a deixar-me "uma cereja em cima do bolo"! Sem palavras!

ESTOU VIVO (2)

Após alguém me ter dito que já nem tempo tinha para escrever... aqui venho dizer que afinal estou vivo! A rotina diária é agora composta por momentos de habituação a esta "nova" realidade. De qualquer forma posso dizer que o Xanax continua a resultar maravilhosamente, combatendo os efeitos reflexos de ver tanta moça bonita e à fresca!
Como podem ver, estou de volta meus caros, com a minha boa disposição habitual! Além disso estou de férias, seguindo e escolhendo os convites que me vão sendo feitos. Boa vida é o que se quer por estas bandas! Há quem trabalhe eu sei.... mas enfim, cada um tem o que merece! Eh eh...
Vamos lá a andar para a frente com isto! O futuro é já amanha e eu quero estar nele, juntamente com vocês!!
Só tenho um probleminha....esta insistência em andar descalço sempre que posso...

1.8.06

Saudades...


Às vezes tenho saudades de andar de comboio... saudades do Japão!